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Nenen, Vem ati, vovô quer Nenen, beijinho. Vovô está com saudade de
Vera. Vem- ati tem praia ...nenen, nenen, do vovô, adola, nenen não vai embóla...Esses ternos pedidos no verso de um cartão postal de Copacabana chegaram ao seu destino dentro de um envelope com o endereço do remetente no verso: remetente: J.G.R. SDF. Endereço: Ministério das Relações Exteriores Palácio Itamaraty Rio de Janeiro- Ati (aqui) nenen, adola(adora), eram palavras criadas pelas netinhas e repetidas pelo vovô Joãozinho - nosso inigualável João Guimarães Rosa. Tal linguagem, partindo do Itamarati para duas meninas de 3 anos e 4 anos, já é razão de sobra para se possuir este livro mágico. Há, porém, muito mais riqueza e emoção do que possa sonhar nossa pretensiosa e seca racionalidade adulta.
João Guimarães Rosa; Grande Sertão, Veredas; Tutaméia e toda literatura do "maior escritor brasileiro do século XX" -esse universo criativo e criado se agacha, rola no chão para brincar, não se acanha em dizer adóla, ati, e cria uma nova dimensão do literato- um aspecto humano que só agora se revela e que torna ainda maior o homem e sua obra. A Arte, já foi dito, é, também, a capacidade de brincar, de ver o mundo como criança. Todas as palavrinhas que vovô usa, os seus desenhos de "carrocinha carregada de beijos", o macaco, o pato, o boi (réplica exata da capa de Sagarana), seus passarinhos e flores, menininhas e gatinhos revelam a capacidade inventiva de quem tanto inventou para a leitura dos maiores- gente chata,como diria vovô. O livro conta com prefácio de Antonio Candido e José Mindlin. Você pode deixar de ler tudo o mais, desde que leia estas "correspondências" - nelas há o segredo de uma vida possível que o tempo não ousa tocar."